Editorial

A Indiferença – Os Bombeiros e as Bestas
Picture of Damião Cunha Velho

Damião Cunha Velho

Partilhar

A indiferença é a melhor resposta que podemos dar a quem nos quer provocar ou ofender, se o fizerem sem argumentos, por preconceito ou pura inveja.

Porém há indiferenças e indiferenças, e a indiferença à morte confesso que me choca profundamente.

A morte e a violência abrem as páginas dos telejornais. A frequência destas notícias, com imagens, já não perturba a maioria das pessoas. Poderá até ser uma defesa. Quem quer passar a vida a pensar em coisas más?

Há alguns anos assisti a um acidente de automóvel em que um jovem de 18 anos morreu lentamente, encarcerado dentro do carro. Diante dessa morte em curso, com os bombeiros a fazerem todos os esforços para trazer de volta o jovem à vida, os donos dos carros envolvidos no acidente estavam na estrada a discutir como consertar os carros e a calcular o valor do conserto.

Fiquei chocado.

Quando o jogador Fehér teve uma súbita paragem cardiorrespiratória em campo, num jogo Guimarães-Benfica, uma tragédia vista em direto, com os colegas jogadores a chorarem adivinhando a morte do jogador, com equipas médicas dos clubes e com bombeiros a lutarem para salvar o jogador com sucessivas massagens cardíacas, vi o inacreditável. Os jornalistas no fim do jogo, fora do estádio de futebol, entrevistaram os adeptos à saída do campo. Todos falaram dos lances sempre duvidosos, do jogo e da arbitragem. Qual foi a parte de “acabou de morrer um jovem jogador em campo” que não perceberam?

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Perturbou-me.

Na semana passada vi uma ambulância parada num caminho. Dentro estavam dois bombeiros a socorrer uma jovem que se estava a sentir mal. Um “senhor” como não conseguia passar com o seu carro, pelo caminho não estar desimpedido o suficiente por causa da ambulância, teve a lata de insultar os bombeiros no preciso momento em que estavam a socorrer a miúda, por terem deixado o carro atravessado na via. É que nem se inteirou sobre o que se estava a passar, se estava alguém em risco de vida ou não, nem se ofereceu para ajudar. Não pensou sequer que um dia ele ou alguém que lhe é próximo poderiam vir a estar nas mesmas circunstâncias, a precisar dos bombeiros para lhes salvarem a vida.

Pensei para mim: quem é esta besta?

Fiquei com a certeza de que estas pessoas são umas bestas e fiquei chocado e perturbado.

E espero continuar a ficar!

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Mais
editoriais

Junte-se a nós todas as semanas