Editorial

A romantização da prostituição
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Damião Cunha Velho

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Existem excelentes documentários e reportagens jornalísticas que mostram a vida dramática, chocante e humilhante da prostituição feminina.

No entanto, se repararmos, o cinema tende a contar histórias com finais felizes sobre mulheres que se prostituem.

Geralmente, são romances de ficção que não têm correspondência com a realidade e muito raramente são histórias verídicas.

A verdade é que ninguém quer ir ao cinema para sair de lá deprimido. Para isso já basta a vida real.

O cinema tem a vantagem de nos fazer sonhar e sair da dura realidade que é o dia-a-dia.

O filme “Pretty Woman”, que estreou nas salas de cinema em 1990, fez isso de forma exemplar. E ainda faz, porque de tempos a tempos volta às televisões, tal foi o sucesso.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Em português chama-se “Um Sonho de Mulher”. Penso que o título do filme já diz tudo!

A prostituta é uma mulher mais que bonita (Julia Roberts) e quem lhe compra os serviços é um homem também bonito, rico e educado (Richard Gere).

Trata-a como se ela fosse uma princesa e ele parece aos nossos olhos o homem perfeito.

Acontece que na vida real a prostituição não é assim. As mulheres não são assim esplendorosas e polidas como Julia.

Aliás, nem mesmo as pernas que aparecem no ecrã são da actriz mas sim de uma dupla. As de Julia, para a realização, não eram suficientemente bonitas!

Os homens que as “visitam” muito menos.

Há de tudo. Mas genericamente não são como Richard e alguns têm taras de que as prostitutas são vítimas.

É a violência em cima da violência.

É claro que existe a prostituição de luxo, mas isso é outro campeonato, e que não está isento desta realidade. Outra fantasia.

Isto para dizer que existe uma romantização da prostituição neste filme e em outros do género que se seguiram, que desvirtuam a crua realidade da vida de quem se prostitui.

E o nosso inconsciente assimila esta falsa realidade.

Aliás, basta ver a nacionalidade das prostitutas que estão nas montras do Red Light District em Amesterdão. Não são suecas ou finlandesas, são de leste, brasileiras, africanas…

Não vêm do luxo dos seus países, nem vêm por opção. Estão a fugir da miséria desses mesmos países.

A sua “escolha” foi entre duas misérias.

Existem, de facto, mulheres que conseguem sair dessa vida, “apagar” os seus traumas e encontrar o príncipe encantado.

Mas, por cada uma a quem isso acontece, são milhões que permanecem nessa vida ou morreram esquecidas pela sociedade.

A mesma sociedade que grita por justiça e com elas se deita!

 

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