Zita Leal
Professora
(Aposentada)
A criança rebelde que fui comovia-se com um Jesus que gostava de crianças de tal jeito, que pedia às pessoas que as deixassem ir junto dele. E eu, por mais maldades que fizesse, deitava-me sossegadinha nos meus lençóis de joaninhas porque ele estaria no céu a proteger-me. Anos mais tarde, porque as maldades eram mais cabeludas, o sossego desaparecia e o meu lugar no céu esfumava-se numa nuvem vingativa.
Já mulher mais que feita, pensava que Jesus tinha escolhido como companhia privilegiada os meninos e as meninas porque eles personificavam a inocência, a pureza. Não era bem assim. Hoje deparei-me com outra motivação.
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Uma amiga recente pôs-me esta questão: – Sabe porque é que Jesus Cristo disse aos discípulos “ deixai vir a mim as criancinhas porque delas é o reino dos céus?” – “ Pela sua pureza, pela sua inocência, para se sentir rodeado de amor… “
– “Não é isso“ -respondeu.
É porque na antiguidade as crianças eram ostracizadas, consideradas adultos imperfeitos, objectos de que os pais poderiam dispor e até matar se fossem doentes ou deficientes. Daí, Jesus querer mostrar ao povo que o seguia ( para o bem ou para o mal ) que as crianças tinham o direito de viver em liberdade e em paz. E os Herodes de todos os tempos teriam que mudar as mentalidades e os comportamentos. Séculos mais tarde nasceram os Direitos das Crianças mas ainda há Herodes com igualdade de género que continuam a espalhar o horror no meio infantil sem o castigo adequado a esses crimes.
Mas faz muita falta um Senhor Jesus que defenda a criançada para que acabem os meninos em caixotes de lixo, caídos em poços, dados aos porcos como ração, abusados a torto e a direito pela família, pelos amigos da família, por médicos, por sacerdotes, por professores, etc.
Não será altura de ele voltar a chamar a si as criancinhas? Andará esquecido?
Serão danos colaterais das alterações climatéricas?