Editorial

ESTAMOS NA ÉPOCA DO DESCARTÁVEL
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Jorge VER de Melo

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Jorge VER de Melo

Consultor de Comunicação

Algo é descartável quando existe com um curto prazo de validade. Ele é lançado fora, todo ou uma parte, depois da sua utilização.

Atribui-se a origem da palavra em homenagem ao filósofo René Descartes com o significado de desfazer.

Na realidade trata-se de um processo de desenvolvimento da sociedade de consumo com implicações na produção mais alargada e com grandes lucros para a indústria. Este método veio ajudar a mudar o Ser humano. Passou a ser menos conservador, a posicionar-se mais na moda e com produtos renovados assiduamente mais a seu gosto. Daí resultou toda esta poluição que conhecemos.

Claro que os EUA estão na origem da industrialização deste processo com: as fraldas descartáveis, as lâminas de barbear, as máquinas de barbear, as esferográficas, as seringas, as casas pré-fabricadas, as embalagens, etc.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Aqui na Europa temos o exemplo mais notório do momento, o “IKEA”, com os seus móveis e artigos de decoração muito dentro do sistema, embora seja de louvar o largo tempo de garantia oferecido e cumprido por eles.

Mas outro grande negócio relacionado com o descartável é a moda do pronto-a-vestir também desenvolvida muito particularmente pelos europeus. Para os mais endinheirados surgem os carros do ano, os bairros habitacionais mais “IN”, os locais para férias mais na moda e assim sucessivamente.

Tudo isto a propósito de quê?

Da situação atual do comum cidadão que passou ele também a ser algo descartável tal como as agências bancárias. Está tudo ao mesmo nível. Se uma agência já não dá o lucro de outros tempos, fecha-se. Nem sequer se perde tempo em reciclar o seu aproveitamento adaptando o pessoal e as próprias instalações aos negócios do momento atual.

Vê-se claramente que quem toma atitudes destas não está a lidar com o seu próprio dinheiro nem necessita do serviço daquelas agências. Sabem mas descartam, que por vezes, os habitantes desses locais têm que se deslocar dezenas de quilómetros para poderem levantar uns míseros duzentos e poucos euros ou menos, como prémio da sua reforma (sobrevivência).

E o mais patético é que o banco do Estado, Caixa Geral de Depósitos, está neste momento a proceder dessa forma.

Porquê descartarem-se desses pobres reformados que durante dezenas de anos lhes deram tanto dinheiro a ganhar? Simplesmente porque entretanto desgovernaram os faustos lucros anteriores:

– Desviando para jogos falidos da Bolsa onde apenas uma seleção muito limitada de pessoas obtêm lucros;

– Para vencimentos fabulosos das administrações;

– E para empréstimos sem garantia a amigos de alguém.

Mas quando uma empresa começa a correr mal, hoje em dia já não se perde tempo em reciclar e adaptá-la a outras produções ou a outros objetivos. A imaginação dos nossos gestores é demasiado curta para deduzir ou fazer estudos que consigam dar a volta por cima, descartar é mais fácil e linear. Como vulgarmente o dinheiro nem é deles, não seguem o processo mais económico, até porque dá mais trabalho e o Ser humano não conta.

Toda esta situação está centrada na falta de capacidade desta gente para agradecer os sacrifício de quem lhes fez bem: avós, pais, professores e todos estes cidadãos que confiaram neles oferecendo-lhes o seu voto para de seguida passarem a ser descartáveis porque quem governa não é capaz de encontrar soluções humanas. É velho, deita-se fora.

Um homem de Valença, cá do Alto Minho, o Professor Doutor António Sampaio da Nóvoa, Reitor honorário da Universidade de Lisboa, lembrou no III Encontro PIBID UNESPAR que segundo S. Tomás de Aquino, a gratidão tem três níveis:

– O nível mais superficial do reconhecimento intelectual, cerebral, cognitivo. Tal como agradecem os ingleses “thank you” e os alemães, “zu danken”;

– O nível intermédio de agradecimento, dando graças a alguém por aquilo que fez por nós. Como fazem a maior parte das línguas europeias como “merci” dos franceses, “gracias” dos espanhóis;

– O mais profundo é o nível do vínculo onde nos sentimos obrigados e comprometidos com essas pessoas Só existe na língua portuguesa ao dizermos “obrigado”.

Como é possível que gente portuguesa como nós se  esqueça de princípios tão nobres da nossa língua para adotarem estas metodologias do descartável?

Será que ainda somos portugueses?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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