Ser pai ou mãe é a coisa mais irreversível que existe.
Não há como deixar de o ser a partir do momento em que o nosso filho ou filha nasce.
É um amor tão grande que não cabe no corpo.
É quase irracional.
Pode ser instintivo. Uma força maior que nos transcende, em que tudo fazemos para garantir a continuidade da espécie, protegendo as nossas crias ao ponto de darmos a vida por elas.
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Eu sou pai de uma filha com 23 anos e trocava a minha vida pela felicidade da minha filha.
Tenho a certeza que, se chegar aos 100 anos e a minha filha mesmo tendo 70 anos, será sempre o amor maior da minha vida. Ou melhor: a minha razão de existir, a minha vida.
O Imperador romano Marcus Aurelius perante o insucesso de um dos seus filhos, em lágrimas, disse que o insucesso de um filho é o fracasso de um pai.
De certa forma concordo, não deixa de ser pertinente este pensamento uma vez que a educação é fundamental na formação do ser humano.
Fica sempre a pergunta sobre o que fizemos de errado ou o que não fizemos e devíamos ter feito para que a vida dos nossos filhos não esteja a ser boa ou não esteja de acordo com aquilo que eles desejam.
Afinal, a grande maioria dos pais tudo fazem, dentro das suas possibilidades e sabedoria, para poderem dar um futuro digno aos seus filhos e de preferência para terem uma vida melhor do que a deles próprios.
É também por isso que se vai evoluindo e as novas gerações, em geral, vão tendo uma vida melhor do que a dos seus progenitores.
Ser pai ou mãe não é uma tarefa fácil, até porque ninguém nasce com um manual de instruções para executar esse “trabalho”, que é exercido a tempo inteiro e para qual não há férias.
Aliás, o psiquiatra Daniel Sampaio diz, com uma certa ironia, que para conduzirmos um automóvel precisamos de uma licença e para ser pais nada nos é exigido, algo bem mais difícil.
Há dias um polícia mandou-me parar numa operação STOP.
Abri o vidro do carro e ele disse-me:
“Aprendi a gostar de música clássica por sua causa. Obrigado, pode seguir”.
Lembrou-me que tinha sido meu aluno quando tinha 15 anos, que lhe dava sempre boleia e que começou a gostar de música clássica porque eu vinha sempre a ouvir essas músicas no carro.
De facto, quando comecei a dar aulas, com vinte e poucos anos, ouvia muita música clássica.
Sempre havia um autor ou uma obra que se encaixavam no meu estado de espírito do momento. Desde a melancolia de Chopin aos momentos de glória de Tchaikovsky.
Agora, mais velho, recordo muitas vezes uma cantata de Bach. Em português chama-se “Já tenho que chegue”.
Não é uma canção triste de quem está farto da vida, mas sim de alguém a quem a vida, estando a acabar, lhe deu tudo.
Eu não quero morrer amanhã mas se vier a acontecer quero pensar que fiquei de bem com a vida, porque a vida também me deu tudo.
O sorriso da minha filha!
3 comentários
Tem um bom motivo para não querer morrer amanhã.
Já eu infelizmente ou não é para mim totalmente indiferente morrer amanhã ou hoje mesmo. Circunstâncias da vida.
Excelente artigo como é habitual
Tem um grande e importante motivo para “não querer morrer amanhã”
Já eu, por circunstâncias da vida, talvez também por ser tratado como uma pastilha elástica que perdeu o sabor e sendo tratado de uma forma como não se pode ou deve tratar um cão, é totalmente indiferente morrer amanhã ou mesmo hoje. Para ser sincero todas as noites quando me deito desejo não voltar a acordar. Resta-me talvez encontrar um contentor do lixo mas não um lixo qualquer porque tenho muito conteúdo que pode ser reciclado e “iluminar” algumas mentes que provavelmente o Dr Egas Moniz terá feito alguma lobotomia.
Excelente artigo como é habitual
Um texto que diz tudo. Verdade, os filhos são o melhor de nós e é amor no infinito por quem daríamos a vida sem hesitar um segundo. Como diz e bem, a vida já nos deu tudo, o sorriso deles.
Por falar em música, também adoro música clássica e oiço muita quando conduzo ou estou a trabalhar sozinha ou, mesmo, quando estou em casa.
Mais um belo tema. Que venham mais!