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Feira das Artes e Ofícios de Soajo: “elevado sentimento”, baixo rendimento

Lavradeiras

A 17.ª edição da Feira das Artes e Ofícios Tradicionais (FAOT), que Soajo (Arcos de Valdevez) recebeu de 15 a 17 de julho, experimentou sentimentos contraditórios. O vínculo às raízes da Terra teve expressão máxima nas exposições, no desfile de roupas tradicionais, nas cantigas ligadas à lavoura e na música de cariz popular (esta levou autênticas multidões ao Largo do Eiró na sexta e no sábado, sempre à noite). Mas, fora o programa de animação (noturna), pouco público acorreu, quase o tempo todo, à feira, que foi antecipada, este ano, em cerca de duas semanas.

A mostra de produtos regionais e os ofícios tradicionais são a razão de ser do certame, mas, excluindo raríssimas exceções, só as tasquinhas geraram algum negócio. A carne cachena, a posta, o porco no espeto e o polvo foram alguns dos pratos que se comeram nas “barraquinhas”, cada qual com a sua especialidade. Nas mesas espalhadas pelo recinto, com diversos carros de mato e de lenha a lembrar aos presentes de onde vimos, também foram degustados diferentes petiscos e alguns dos típicos produtos da endogenia, casos do presunto, chouriço, carne da serra, pão-de-ló, mel, licores, compotas e doces, sem esquecer a gastronomia caseira (pataniscas, rissóis, bolinhos de bacalhau, bifanas, panados e caldo-verde). Os restantes setores representados na FAOT, sobretudo os produtos de base rural e o artesanato, suscitaram reduzida procura, talvez devido à profusão, no mercado, de “artigos chineses”, queixou-se uma artesã na cerimónia oficial de inauguração.

Mas, na ronda feita pelos 36 expositores – dedicados não só aos petiscos como também ao artesanato, às plantas aromáticas, medicinais e condimentares, aos enchidos, aos licores, à fruta desidratada, às compotas, à doçaria, à panificação, aos queijos e aos vinhos –, o secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, a todos, transmitiu uma mensagem de confiança.

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Segundo disse Amândio Torres, na breve alocução proferida no Centro Social e Paroquial, “é preciso apanhar o comboio da mudança e aproveitar as riquezas que existem (paisagens, produtos, artes e ofícios) neste território, que, sendo de baixa densidade, é, no entanto, de elevado sentimento”, atirou o secretário de Estado, que se mostrou “surpreendido” com a “desgarrada” que Augusto Canário lhe “serviu”, de improviso, à chegada.

Inspirada (ou não) pelo espírito que se viveu na sessão de discursos, Rose Galopim confessou, depois, ao governante o desafio que a motiva. “Queremos pôr Soajo no mapa”, sublinhou a copromotora da marca Serrana Gourmet, que, conjuntamente com Lisa Araújo, recém-fundou.

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Seguindo o figurino experimentado em anos anteriores (na verdade, não houve inovação que se visse nesta edição), a FAOT privilegiou o espaço de “tasquinha”, com animação (quase) em permanência no recinto. O objetivo foi, parece, “chamar” visitantes e “prender” as pessoas no Largo do Eiró. Mas as elevadas temperaturas de sábado e domingo prejudicaram, irremediavelmente, a visitação. Só Quim Barreiros e as rusgas ajudaram a criar, à noite, um ambiente de festa no recinto. Augusto Canário também fez vibrar a (reduzida) assistência que se acomodou à sombra das árvores em boa parte da tarde canicular de sábado.

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Quanto à programação cultural e lúdico-pedagógica, é justo destacar, pelo sentimento difundido, a exibição das Cantadeiras de Soajo, que recriaram cantigas ligadas ao mundo agrícola, e a exposição “Soajo e as suas gentes – Uma viagem ao passado”, que, através de uma sugestiva galeria de fotos da autoria de Alexandre Fernandes Baptista e Alexandre Rodas Araújo, permitiu recuperar bonitas memórias, algo que os apetrechos ancestrais patentes no Salão S. José (Centro Social e Paroquial) também suscitaram. Outras soajeiras, de várias idades, protagonizaram um gracioso desfile de trajes tradicionais, sob coordenação de Gil Viana, a fazer jus ao “elevado sentimento” intrínseco ao território, como e ele se referiu o secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, Amândio Torres.

No rescaldo da 17.ª edição, fortemente marcada pelo clima (quase) tropical, a antecipação da mesma para meados de julho, sem a numerosa comunidade de emigrantes que, no torrão natal, costuma estar de férias em agosto, não terá ajudado, segundo vários expositores, a dar o desejado impulso ao evento, que, em anos recentes, tem vindo a desmobilizar alguns dos produtores referenciais da economia regional. Também “jogou” a desfavor da visitação a apresentação tardia do programa, isto quando as famílias gostam de planear, com algum grau de certeza, os seus fins de semana de verão.

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A organização da FAOT, que teve apoio do Município arcuense, emparceirou a ARDAL-Porta do Mezio e a Junta de Freguesia de Soajo.

 

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