Editorial

O IC28 salvou Viana, mas já matou demais!
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Damião Cunha Velho

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Para quem vivia nos concelhos de Ponte da Barca, Arcos de Valdevez e Ponte de Lima, Viana do Castelo era uma espécie de estância turística muito visitada no verão, mas praticamente esquecida durante o resto do ano.

Os habitantes destes concelhos iam recorrentemente a Braga fazer compras. Braga já é há muito a terceira maior cidade do país. Tem tudo, tal como Porto e Lisboa e fica a apenas 30 quilómetros para barquenses, arcuenses e limianos. O boom das cadeias internacionais de alimentação, vestuário e bricolage aconteceu em Braga num abrir e fechar de olhos. A par disso, a construção a preços acessíveis e o crescimento da Universidade do Minho, que já vinham de trás, tornaram Braga numa cidade apelativa para estudar, trabalhar, viver e comprar.

Viana, a mais do que bonita Viana, com as suas praias de encantar, do Cabedelo até Caminha, continuava esquecida quando não fazia sol e calor. Mas, muito mudou quando se fez o IC28, a A27 e o Centro Comercial Estação Viana. Muitos dos que iam para Braga, sobretudo para fazer compras passaram a fazê-lo em Viana. E assim, Viana do Castelo, merecidamente, ganhou uma nova vida. A viagem para Viana passou a ser mais fácil e mais rápida do que para Braga e novos comércios surgiram, novos restaurantes e hotéis, novas clínicas de saúde, o Instituto Politécnico cresceu e Santa Luzia sorriu.

Porém, não há bela sem senão.

E o IC28 tem sido uma verdadeira estrada da morte. Desde a sua inauguração, em 2003, já muitas vidas foram ceifadas. Eu já perdi um amigo que foi atropelado quando prestava socorro num acidente, já vi um adulto encarcerado que parecia estar a colaborar com os bombeiros e depois veio a morrer, conheço os pais de um jovem que ali perdeu a vida, conheci um casal que também lá morreu, muito recentemente morreu um motociclista e há coisa de dias mais dois homens mortos num choque frontal.

Um cemitério.

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A propósito deste último acidente mortal e questionando-me sobre as razões de o IC28 já estar a ser apelidado de “A Estrada da Morte” para quem aqui mora, conversei com um polícia que trabalhou como perito em acidentes rodoviários. Fiquei a saber que 99% dos acidentes no IC28 devem-se a excesso de velocidade e a consumo de álcool. Fiquei a saber que as entidades competentes sabem exatamente as causas dos acidentes e como os evitar. A solução imediata seria colocar separadores centrais já que as medidas para controlar a velocidade e o consumo de álcool são sobretudo pedagógicas, não produzem efeitos imediatos e prevaricadores existirão sempre, independentemente da eficácia das campanhas nesse sentido.

Os danos causados por excesso de álcool num acidente rodoviário não são cobertos pelos seguros. Isto significa que há famílias destroçadas quer pela morte do(s) familiar(es), quer pelo facto de depois passarem anos em tribunais, condenadas a rever constantemente a tragédia e por fim, condenados a pagar os danos e a indemnizar os afetados pelo acidente. Um drama que se pode arrastar para o resto da vida para alguém que já sofreu o drama da perda.

Sabendo-se de tudo isto, porque quem estuda estas matérias sabe-o, fica a pergunta:

“Quantas mais mortes, quantas mais famílias destroçadas são precisas para se colocarem separadores centrais no IC28?”

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