Editorial

TODOS DIFERENTES, TODOS IGUAIS
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Zita Leal

Zita Leal

Professora

(Aposentada)

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Bem cedo, ainda os verdes anos me vestiam de inocência e fé e eu achava que éramos mesmo assim. Veio a adolescência, o tempo de “ olhar para a sombra “, dos grupinhos por afinidades de brincadeira e jogar ao ringue, à macaca, ao salta carneiro não nos afastava. Às vezes um amuo de horas, mas era pacífica essa guerrinha.

Aborrecia-me mesmo quando me chamavam caixa de óculos, perninhas de canivete, carapinha de preta, mas um murrinho nos queixos não deixavam que eu deprimisse. Éramos iguais nos comportamentos inconsequentes.

Mais tarde deparei-me com situações bem diferentes: colegas de escola que eram colocados nas últimas carteiras porque aprendiam lentamente e prejudicavam o aproveitamento escolar dos mais inteligentes, meninas e meninos que vestiam sempre a mesma roupa e por isso e por falta de sabonete cheiravam a “ raposinho “e por tal motivo nunca eram convidados para festejar o aniversário das meninas Laurinhas ou dos meninos Gonçalinhos.

Anos de liceu que me atiraram para a preocupação da Questão Social, para as visitas à prisão da cidade e que hoje me pergunto “ para fazer o quê “, para as visitas ao pobre da semana e nisso tinha alguma utilidade porque ao sábado de tarde lhe sacudia a passadeira da cozinha, e lhe dava um abracinho, enquanto que em casa para desespero da mãe, arranjava sempre pretextos para não a ajudar nas tarefas de limpeza: exercícios para o dia seguinte, testes muito difíceis, toda uma série de trabalhos que me impediam de trabalhar em casa. Ainda hoje tenho remorsos. Mas a minha mãe sabia que um dia, quando crescesse, seria boa dona de casa porque além de pernas e braços para trabalhar, tinha muito juizinho. Poderia morrer descansada.

Já adulta deparei-me com sofrimentos de mães que não tiveram essa certeza, e isso dói no nosso bem estar, e isso dói no sossego de que quando já não estivermos, os nossos filhos conseguirão “ desenvencilhar-se.”

Crianças diferentes serão crianças iguais? As certezas adquiridas na defesa de igualdade a todos os níveis que deverá irmanar o género humano, começam a perder sustentabilidade. Tentando vestir a pele de mãe ou pai de uma criança com necessidades acrescidas físicas ou mentais, pergunto-me: “ e depois de mim? Quem o ajudará a sobreviver?” Morro de angústia!

Ajuda um pouco saber que há associações dedicadas à procura de soluções mas… o Estado estará sempre LÁ? A partilha de responsabilidades será isenta de politiquices, de subserviências a uma economia dominadora, à preocupação pelo TER em detrimento do SER?

Quero acreditar que este arrazoado de palavras será fruto do confinamento, do ter tempo para filosofar. Quero acreditar que com diferenças, com igualdades, somos todos IGUAIS.

Quero acreditar que os meus filhos estarão sempre protegidos quando eu estiver mais ALÉM. ESPERO!

 

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