Zita Leal
Professora
(Aposentada)
Se outros propuseram, defenderam e ganharam, por que não eu? E é tão simples o que proponho.
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Confinamento, quarentena, deram nisto: mais tempo a ver, a ouvir jornais televisivos, a dar-me conta que o egoísmo, a urgência de TER é cada vez maior, a certeza e o prazer de constatar que o meu umbigo é melhor do que o teu, que o mais importante da vida sou eu e eu e sempre eu…
Espaço para ti? Calma e mar raso… Antes de ti estou eu… sou a primeira da fila.
Depois vem a raiva, as necessidades assassinas de acabar com o descalabro, a impotência de ajudar a resolver a injustiça, o desamor, e a frustração de nada fazer. Como a canção italiana dizia há anos: “ Paroles, paroles, paroles…” também eu falo, falo e não faço nada.
Quando tenho quinze minutos livres após o almoço faço a minha sestazinha e hoje, por ser domingo, tive direito a muitos mais. E adormecer? Não sei se por a carne ser rija, se o melão me atrasou a digestão, o descanso foi-me negado. Claro que o cérebro não parou e massacrou-me o sossego. Poderia ter-me proporcionado sonhos lindos com praias de águas azuis, com músculos apetecíveis à Ronaldo, mas não. Inundou-me os ticos e os tecos com garotos de olhar espantado de tanta fome, de tanto sofrimento, de tanta incerteza de vida, que dei comigo a pensar: se modificássemos os pronomes pessoais, os possessivos? Se o EU desaparecesse e o Tu assumisse o primeiro lugar? E se o Nós também desaparecesse da gramática tradicional e o Vós lhe tomasse o lugar? O discurso de cada um seria diferente. O Tu e o VÓS ganhariam na linha da dianteira e seriam os primeiros a chegar à meta, não era?
Desculpem esta intromissão nas directivas gramaticais e façam de conta que estas patacoadas são fruto de uma sesta adiada ou quererão fazer parte do novo acordo ortográfico.
Mas que Eu olharia melhor por ti se eu fosse Tu, olharia!
