Editorial

Pessoas más são pessoas tristes
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Damião Cunha Velho

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Hoje cruzei-me com um corcunda e lembrei-me de uma pessoa má que conheci.

Essa é a única característica física que têm em comum, pois esta tratava-se de uma pessoa boa.

A má que conheci fazia a vida negra a toda a gente, tinha comportamentos desrespeitosos para com os colegas de trabalho na frente de quem quer que fosse.

Eu tinha pena dela não por ser má, mas porque o ser má era um reflexo da sua infelicidade.

Era como um lugar onde o amor nunca habitou.

Não a posso acusar de traição ou incoerência, porque ela nunca escondeu que era má e sempre disse ao que vinha. Nunca me surpreendeu.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Escolher entre uma pessoa má e um traidor, eu escolho a má. Da má sempre nos podemos defender, quando podemos, já um traidor consegue apanhar-nos desprevenidos e a surpresa é mais que negativa. Não é só o mal que nos pode fazer no momento da traição, mas também o mal que o desapontamento nos faz.

Os traidores não têm carácter, já os maus têm um caráter forte, igual a um guerreiro mal-amado que toda a vida luta por uma causa que é injusta e que nega.

As pessoas más também são pessoas invejosas. Invejam nos outros a capacidade de dizer “não”. Sabem que o sonho de ser como esses outros é inatingível, por várias razões, umas visíveis e outras escondidas.

Talvez por terem sido vítimas de outras pessoas más e a única coisa que sabem fazer é reproduzir esse comportamento. Não conseguem subir aquele degrau em que o passado ficou para trás e ter uma vida própria. São prisioneiros das suas angústias.

São fruto de um passado de frustração e a felicidade é um lugar estranho, invejado mas temido, e que não sabem como lidar com ele.

Nunca desejei mal a essa pessoa e nunca lhe tive ódio, só pena. Pena por ser infeliz.

Hoje está velha, meio cega e com uma enorme corcunda.

Acredito que traz às costas o peso do mal que fez a muita gente. Um mal irrevogável que tem um preço elevado.

A infelicidade corrói e o arrependimento nem sempre é salvador.

Pior é que Deus nem sempre é piedoso com os maus e a vez dela de prestar contas está a chegar.

Ou melhor já chegou, porque há pesos insuportáveis e nota-se que ela já não tem genica para os disfarçar.

No fundo foi vencida por ela própria.

É uma morta viva, um ser incógnito a tentar sobreviver num poço chamado “tristeza”.

Num poço em que acabará por se afogar!

 

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