Editorial

Um conselho para quem sofre de zumbidos
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Damião Cunha Velho

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Numa noite de inverno fui dar um passeio junto à margem do Lima. Um frio de rachar e o rio estava muito cheio. Fazia-se ouvir o imponente Lima quase a galgar as margens.

Ao voltar para casa, o barulho das águas agitadas do rio permaneceu no ouvido. Uma coisa estranha e que me tirou o sono.

No dia seguinte fui ao médico. Tinha uma otite “silenciosa” que facilmente ficou tratada com um antibiótico.

O problema é que sobrou um zumbido. Uma coisa chamada “acufenos” em linguagem médica.

O zumbido é extremamente incomodativo, principalmente em locais ou períodos de silêncio como acontece durante a noite. E nas primeiras noites vi-me atrapalhado, quase a enlouquecer.

Cheguei a adormecer junto ao frigorífico porque aquela chiadeira constante do eletrodoméstico ajudava a mascarar o zumbido.

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Fui a vários médicos da especialidade e fiz vários exames. Tudo deu normal e não tinha qualquer défice auditivo.

Quando o zumbido é provocado por uma falta de audição, com um aparelho auditivo o zumbido pode desaparecer.

Não foi o caso e a tormenta continuou.

Comecei a pesquisar pela internet sobre o assunto e li até que pessoas se suicidaram por causa desse constante e incomodativo ruído.

Logo comecei a ser bombardeado com publicidades de empresas e marcas de aparelhos auditivos. É assim quando vamos pesquisar seja o que for na internet.

E no desespero estamos mais suscetíveis a ser ludibriados. Comigo aconteceram múltiplas tentativas de me venderem esses aparelhos com a promessa da cura, mesmo lhes dizendo que não tinha problemas de audição.

Infelizmente, muitas pessoas, sobretudo idosos, são presa fácil dessas empresas. E não acontece apenas pela internet ou via telefone, a televisão é também usada para angariar clientes sem qualquer ética. Basta repararmos quando nos querem vender um aparelho desses por apenas 5 euros, sendo que para fazer a compra temos que dar dados pessoais. Mas o que querem, de facto, é fazer uma base de dados com as pessoas que têm problemas de audição e a partir daí nunca mais nos largam para vender aparelhos de milhares de euros.

Eu nunca caí nessa armadilha, até porque não tinha problemas de audição, verificado por médicos e, como tal, o meu zumbido não era provocado por ouvir mal como, aliás, acontece com muitas outras pessoas.

Tomei medicamentos que só produziam resultados ao fim de seis meses. Outra mentira, desta vez usada para fins terapêuticos, até porque o zumbido muito raramente passa. O que acontece é que nós esperamos esse tempo na expectativa de ter resultados. E, enquanto esperamos vamo-nos habituando ao zumbido e o sofrimento vai-se atenuando.

O nosso organismo faz imensos barulhos internos (respiração, batimentos cardíacos…) e curiosamente nós não os ouvimos. Isto acontece porque o nosso cérebro não valoriza esses barulhos e nós não os ouvimos apesar de eles nos acompanharem 24 horas por dia.

O meu conselho passa exatamente por aí. Fazer com que o nosso cérebro não valorize o zumbido e com isso ele, apesar de lá estar, não se tornar incomodativo ou audível em muitos momentos do dia.

O exercício que proponho é um trabalho de relaxamento. Cada um saberá qual a melhor forma de ficar relaxado. Pois, quanto mais relaxado estiver o organismo, menos espaço damos ao zumbido para que ele se faça notar e ser incomodativo.

Comigo resultou e passados alguns anos de ouvir pela primeira vez um zumbido persistente, hoje eu sei que ele ainda está lá porque de vez enquanto dá um ar da sua graça, só que já não me perturba.

Fica o conselho!

1 comentário

  1. Eu também tenho esse zumbido ,mas só o noto quando estou relaxada ,no sofá ,já me habituei a viver com isso e o que faço é não valorizar

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